Sexo, quanto é? O valor e o custo de ser profissional do sexo
Documento
Informações
Título
Sexo, quanto é? O valor e o custo de ser profissional do sexo
Autor(es)
Dariene Castellucci Martins
Orientador(es)
Selma Aparecida Geraldo Benzoni
Data de Defesa
20/12/2024
Resumo
A prostituição feminina é uma atividade laboral em que a experiência sexual é ofertada mediante remuneração, atribuindo ao sexo uma conotação mercantil. Apesar de multifatorial e intersetorial, os serviços sexuais, embora reconhecidos na CBO desde 2002, não possuem regulamentação social ou trabalhista, devido a entraves políticos, morais e religiosos. Isso perpetua o estigma, o preconceito e a discriminação, limitando o acesso dessas mulheres a direitos básicos e à plena valorização de suas individualidades. Há quem defenda a erradicação da prostituição por conta da exploração e violências enfrentadas por essas trabalhadoras; contudo, sem políticas públicas adequadas, tais medidas não garantem proteção e cidadania. O objetivo da pesquisa é compreender como mulheres cisgênero, profissionais do sexo, constroem sua autoimagem e desempenham diferentes papéis sociais para além da profissão. O estudo é qualitativo, exploratório e descritivo, baseado em um estudo de caso coletivo com cinco participantes, maiores de 18 anos, que se autodenominam profissionais do sexo e atuam em uma cidade do interior paulista. Para a coleta de dados, utilizaram-se entrevistas semiestruturadas, a técnica do Desenho-estória-temático e o diário de campo, realizados nos locais de trabalho das participantes, como bares e hospedarias da região central da cidade. Entre as características sociodemográficas das participantes, três têm entre 40 e 50 anos e duas entre 20 e 30; uma é branca, uma parda e três pretas; três são separadas e duas casadas. Quatro possuem filhos e trabalham na profissão há mais de 10 anos, com escolaridade variando do ensino fundamental incompleto ao ensino médio completo. A análise fundamenta-se na teoria de Michel Foucault e organiza-se em três categorias. O poder velado: a prostituição sob o véu social investiga como o poder patriarcal agrava a vulnerabilidade das profissionais do sexo e as expõe à violência. O poder que orquestra corpo, sexo e prazer discute o corpo feminino como objeto de controle e consumo, mas também como resistência, revelando os efeitos de normas estéticas opressivas na condição de ser mulher. A mística do cotidiano: as relações de afeto das profissionais do sexo explora a separação entre vida pessoal e profissional, marcada por sofrimento e complexidade. Os resultados evidenciam temas recorrentes, como violência e vulnerabilidade social, amplificados por marcadores de gênero. A pesquisa revela que dar voz a essas mulheres permite expor as estruturas de poder que reforçam sua marginalização, superando o estereótipo da "mulher profana" e reconhecendo suas múltiplas formas de existência e resistência. O conceito de “mulheridades” reflete essas realidades diversas e resilientes, destacando as complexas experiências dessas profissionais. Como estratégia de letramento de gênero e para reduzir os estigmas associados à prostituição, será produzido um podcast com base nos achados da pesquisa.
Resumo (EN)
Female prostitution is a form of labor in which sexual experiences are offered in exchange for payment, assigning a mercantile connotation to sex. Despite being a multifaceted and intersectoral phenomenon, sexual services, although included in Brazil's CBO (Brazilian Classification of Occupations) since 2002, lack social and labor regulation due to political, moral, and religious barriers. This perpetuates stigma, prejudice, and discrimination, limiting these women’s access to basic rights and full recognition of their individuality. While some advocate for eradicating prostitution due to the exploitation and violence faced by sex workers, such measures, without adequate public policies, fail to ensure protection and citizenship. This research aims to understand how cisgender women, who identify as sex workers, construct their self-image and perform various social roles beyond their profession. The study is qualitative, exploratory, and descriptive, based on a collective case study involving five participants aged 18 or older, self-identified as sex workers, operating in a city in São Paulo’s countryside. Data collection was carried out using semi-structured interviews, the Thematic Story-Drawing technique, and field diaries, in the women’s workplaces, such as bars and inns in the city center. The participants’ sociodemographic profiles revealed that three were aged 40–50 and two were aged 20–30; one identified as white, one as mixed-race, and three as black. Three were separated, two were married, and four had children. Most had been in the profession for over 10 years, with educational levels ranging from incomplete elementary school to completed high school. The analysis is grounded in Michel Foucault’s theories and structured into three categories. The Veiled Power: Prostitution Under a Social Cloak examines how patriarchal power exacerbates these women’s vulnerabilities and exposes them to violence. The Power Orchestrating Body, Sex, and Pleasure discusses the female body as an object of control and consumption, but also as a form of resistance, highlighting the oppressive aesthetic norms impacting women beyond their roles as sex workers. The Everyday Mystique: The Affective Relationships of Sex Workers explores the separation between personal and professional lives, marked by complexity and suffering. The findings reveal recurring themes, such as violence and social vulnerability, amplified by gender markers. The study underscores that amplifying these women’s voices exposes power structures that reinforce their marginalization, challenging the stereotype of the "profane woman" and enabling a broader understanding of their "womanhoods." This term encapsulates the diverse and resilient ways sex workers navigate their multifaceted realities, asserting their humanity and resistance. As a strategy to promote gender literacy and reduce the stigma surrounding sex work, a podcast will be produced based on the study’s findings.
Tipo
Dissertação
Palavras-chave
Palavras-chave: Profissionais do sexo. Prostituição. Prazer. Sexo. Gênero
Publicado em
MARTINS, D. C.; BENZONI, S. A. G. (Orientadora). Sexo, quanto é? O valor e o custo de ser profissional do sexo. 2024. Dissertação (Mestrado em Práticas Institucionais em Saúde Mental) - Universidade Paulista, São Paulo, 2024.
Área de Concentração
Saúde Mental nos Contextos Institucionais
Linha de Pesquisa
Saúde mental do adulto nos diferentes contextos institucionais
Grupo de Pesquisa da UNIP cadastrado no CNPq
Grupo de Pesquisas em Saúde Mental nos Contextos Institucionais
Instituição
Universidade Paulista
Financiamento
Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UNIP
Direito de Acesso
Acesso Aberto