Querido Lula: entre o construto da memória social e a disputa de capital simbólico no ideário político

Resumo

Esta pesquisa aborda o tema da articulação entre memória, processos culturais e processos comunicacionais como operantes na construção dos sujeitos históricos produtores e receptores do livro Querido Lula: cartas a um presidente na prisão (CHIRIO, 2022). Optamos pela abordagem qualitativa e método de investigação hipotético-dedutivo. Nossa problemática fundamenta-se na hipótese geral do livro como materialidade (semiológica, simbólica e discursiva) de sujeitos históricos e como material de campanha política na polarizada disputa presidencial de 2022 no Brasil. Buscamos analisar os processos memorialísticos, culturais e comunicacionais e a discursividade nos relatos testemunhais dos missivistas e nos demais elementos composicionais do livro: capa, prefácio, introdução, orelhas e cadernos de imagens, resultantes de curadoria editorial. O corpus da pesquisa constituiu-se do livro e do discurso proferido por Lula no dia 07 de abril de 2018, dia de sua prisão. Na análise, foram mobilizados conceitos de diferentes campos de estudos: sobre linguagem, gêneros textuais e memória discursiva, Bakhtin, Goffman, Marcuschi Charaudeau e Courtine; sobre memória e verdade da história oral, Halbwachs, Bergson, Ster, Bartlett, Pollak, Sarlo e Artières; sobre texto cultural e compartilhamento simbólico, Bystrina, Campbell, Pross e Silva; sobre regimes de visibilidade e sociabilidade, Campanella e Sibília; sobre a construção do crédito, do capital simbólico, da influência e da celebridade, Charaudeau, Bourdieu, Karhawi e França; sobre imaginário, imagem e crise de visibilidade, Kamper, Baitello Jr., Silva, Contrera e Bruno; sobre intolerância e estrutura polarizadora, Heller, Braga, Recuero, Souza e Sponholz. As considerações finais indicaram os missivistas como sujeitos históricos que realizam discursivamente sua constituição simbólica e a memória social do grupo; e a construção editorial do livro como material de campanha política, voltado à reafirmação do capital simbólico de Lula para que seja traduzido em votos na disputa presidencial e o reconduza ao mais alto cargo do Poder Executivo no Brasil.