Formas de ativismo entre os fãs de Anitta: internacionalização de carreira, crowdfunding e envolvimento político.

Resumo

O objetivo desta pesquisa é promover a reflexão analítica sobre ativismos realizados por comunidades de fãs de Anitta exemplificadas em três estudos de caso: internacionalização de carreira, crowdfunding e posicionamento político. Entende-se por ativismo de fã as ações que demonstrem a participação ativa dos fãs que movimentam as redes e aderem a determinada causa, associada a cultura participativa e a inteligência coletiva (Lévy, 1996), envoltos pela convergência dos meios de comunicação para compor a tríade mencionada por Jenkins (2009), apresentando o fã como protagonista.
Esta pesquisa concentra-se nos fãs da artista pop Anitta. Muito já foi escrito sobre a cantora por diversas vertentes, seja o olhar para a empresária, a dançarina ou a marketeira. A proposta é observar as narrativas de outro ângulo, deslocando o foco dos ídolos para os fãs. Fãs que anseiam por informações sobre a vida da cantora ou notícias de bastidores sobre os próximos lançamentos musicais ou descobrir a opinião da funkeira sobre uma temática dos trending topics da internet. Anitta é uma explosão quando se fala em mídias sociais, a celebridade cresceu com a internet e apresenta números progressivos de visualizações a cada lançamento de seus videoclipes.
Os fandoms de Anitta são tão envolvidos quanto a própria artista: são articulados na internet, organizados quando o assunto é alavancar números para a cantora e representam uma força coletiva reconhecida no ecossistema musical. Os fãs de Anitta serão o foco principal dessa pesquisa ao explorar o comportamento dessas comunidades em mobilizações ativistas digitais, observando as interações na rede social Twitter tanto dos fãs quanto da artista e as notícias veiculadas na mídia que envolvessem os fãs de Anitta, abordando suas preferências e envolvimento com a celebridade. A pesquisa empírica foi baseada em dados secundários, a saber: postagens nas redes sociais da cantora, especialmente no Twitter, comentários de fãs, entrevistas de fãs, entrevistas com a artista e notícias veiculadas em jornais, revistas, portais ou blogs. A observação desses documentos, coletados no âmbito digital, teve a intenção de observar as percepções e as atitudes que levassem os fãs às ações ativistas ocorridas no período de cinco anos da carreira da funkeira.
Os principais resultados da pesquisa mostram que o primeiro exemplo, o de ativismo de internacionalização de carreira, é marcado pelo alcance abrangente, envolvendo fãs nacionais e internacionais, e não fãs que se engajaram na proposta de colocar a brasileira em primeiro lugar no Spotify mundial. O segundo exemplo de ativismo de crowdfunding apresenta a princípio uma frustração, uma vez que a meta não foi realizada, porque seria infrutífero gastar o dinheiro arrecadado sem o empenho da gravadora. Nas plataformas midiáticas os fãs e a própria artista fizeram pressão demonstrando a insatisfação contra a gravadora, que por fim aceitou a finalização do contrato. O terceiro exemplo abordará as iniciativas dos fãs quando se sentem afrontados diante da falta de posicionamento sobre o candidato político Jair Bolsonaro, desfavorável ao público LGBTQIAP+, público crescente de Anitta.
Serão utilizados conceitos de Jenkins (2006, 2009, 2012, 2015) e Greco (2010, 2015, 2019) para compreensão do universo dos fãs, enquanto Castells (2003, 2005, 2013) e Sandvoss (2005, 2007 e 2013) refletem sobre identidade coletiva. Pierre Lévy (1998, 2003) conceitua inteligência coletiva e a temática do ativismo será abordada pelos autores Brough e Shresthova (2012), Milhomens (2009, 2014), Amaral e Monteiro (2013, 2015) e Di Felice (2012, 2017). Rudiger (2013) conceituará a cibercultura.