LEGITIMAÇÃO DO USO DA IA GENERATIVA NA AVALIAÇÃO ASG DAS ORGANIZAÇÕES: Análise com base nas lógicas institucionais

Resumo

A lógica que irá prevalecer em um campo institucional quando novas propostas são difundidas entre seus participantes é uma questão tradicional da teoria. Este estudo examina uma nova lógica, que não pretende subverter a lógica prevalecente anterior, mas agregar pressupostos decorrentes de sua base tecnológica que implicam em instrumentos ainda não descritos para interação entre as lógicas. A ação dos diversos profissionais e organizações na implementação das avaliações da sustentabilidade dos resultados da organização nas dimensões Ambiental, Social e de Governança (ASG) apresenta um desafio pela falta de um padrão internacional, convencionado entre agências de avaliação, e pela necessidade de atender a múltiplas normas e regulações. Para superar esse desafio, tem sido proposto o uso das capacidades de sumarização e análise dos algoritmos de Inteligência Artificial Generativa, que permitem a análise automatizada de volumes cada vez maiores de informações. Na orientação das práticas organizacionais, a capacidade desses algoritmos de explicar fatores considerados em seus resultados torna-se um contraponto à sua principal limitação: a falta de transparência sobre os dados utilizados em seu desenvolvimento e treinamento. A pesquisa exploratória qualitativa foi orientada para a compreensão de como os atores envolvidos com o treinamento, desenvolvimento e uso de algoritmos de IAs Generativas justificam, a cada etapa, o seu uso para obtenção dos objetivos das lógicas institucionais prevalentes na avaliação de decisões de investimento ASG. A investigação obteve, como resultados: 1) que as IAs Generativas têm impactado a tomada de decisão, no contexto da disputa entre a lógica prevalente e a introdução da ASG, de formas ainda não discutidas na teoria institucional, decorrentes da sua aparente objetividade e neutralidade na obtenção dos objetivos enunciados pelos atores em suas instruções, ainda que não saibam qual a metodologia utilizada ou os pesos atribuídos pelo algoritmo aos diversos fatores em análise; 2) como consequência, as IAs Generativas são legitimadas a partir de um balanceamento que os atores fazem entre os ganhos de eficiência na realização das atividades e a capacidade de compreensão dos fatores avaliados e que impactam as organizações em um processo que descrevemos como uma legitimação às cegas. A aceitação tácita dos resultados obtidos com o uso das IAs Generativas favorece a lógica de mercado predominante nas avaliações das organizações e privilegia a eficiência operacional no seu alinhamento à dimensão ambiental da ASG com o uso de menos recursos materiais, de energia e de mão de obra, priorizando a análise das emissões de carbono. Os demais critérios de avaliação ambiental, social e de governança não são priorizados nessas análises. Entende-se que a legitimidade da IA Generativa encontrada no campo é decorrente: a) das orientações fornecidas no seu desenvolvimento, privilegiando as lógicas prevalecentes e, quando possível, os critérios ASG que sejam compatíveis com elas; ou b) de a geração individual recorrer a referências relacionadas às lógicas prevalecentes que não necessariamente favorecem a perspectiva ASG mas que, combinadas com as requisições de análise, suscitam resultados que aparentam atender a essas requisições, enquanto privilegiam a lógica prevalecente no campo.