Entre a dor e a esperança: a drogadição na história de mulheres em reabilitação pela ótica psicanalítica

Resumo

Atualmente, nota-se um crescimento mundial da drogadição. No Brasil, em 108 maiores cidades, 22,8% dos participantes usam drogas ilícitas, como maconha, solventes, cocaína, orexígenos, anorexígenos e outras (CEBRID, 2005). Este aumento ocorreu significativamente em países em desenvolvimento principalmente, devido a pobreza, pouca adesão educacional e marginalização social. Trata-se de um fenômeno multicausal que necessita ser tratado por políticas públicas que contribuam para trabalhos de promoção de saúde. Na literatura, predominavam-se dois modelos principais de tratamento: o médico/hospitalocêntrico e o moral. Entretanto, outros modos de intervir junto à reabilitação psicossocial têm se apresentado como: terapias clínicas; redução de dados, os grupos de mútuo-ajuda; os grupos matriciais, assim também, como trabalhos envolvendo a arte. Nesse contexto, insere-se o presente trabalho, tendo como objetivo investigar a drogadição e suas interfaces com os aspectos sociais, emocionais e psicológicos de mulheres em tratamento de drogadição. Trata-se de um estudo qualitativo, com aplicação de entrevista individual semiestruturada em 8 voluntárias. As entrevistas foram registradas, transcritas e analisadas segundo a análise temática. Dentre os resultados, destaca-se que a experiência de perdas representativas na infância, violência doméstica e abuso de álcool ou drogas pelos pais. A adolescência marcada por experiências amorosas negativas vividas precocemente e pelo início de uso das drogas. As mulheres afirmaram buscar a droga para alívio de seus sofrimentos. Sugeriram sentir medo do passado e, concomitante, indicaram repetição do desafeto e distanciamento social na vida adulta. Apresentam esperança de cura/reabilitação, mas acreditam carregar no corpo sequelas de suas histórias. Numa perspectiva psicanalítica, estes resultados sugerem um conjunto de fatores sociais e familiares que exerceram prejuízo no desenvolvimento emocional em suas etapas iniciais, comprometendo aquisições importantes para o percurso saudável. Considera-se importante o alinhamento das estratégias de trabalho em saúde que possam se mostrar sensíveis e eficazes, respeitando a complexidade desta demanda.