Caracterização comportamental e fisiopatológica reprodutiva e de trato digestório em modelo murino de intolerância à lactose

Resumo

A intolerância à lactose (IL) afeta muitas pessoas, com sintomas como diarreia e dor abdominal, mas seus mecanismos são desconhecidos. Mulheres são mais reportadas e têm sido descritas correlações com prejuízos psiquiátricos e reprodutivos. O objetivo do trabalho foi de avaliar se a IL induz prejuízos psiquiátricos e reprodutivos femininos, estudando mecanismos locais, sistêmicos e centrais. Foram desenvolvidos dois modelos experimentais de IL com o fornecimento de dietas ricas em lactose: solução com 14% de lactose e fórmula comercial de leite em pó para o uso infantil por 14 dias seguidos. Foram avaliados em ratas adultas: as cíbalas fecais, o peso corporal, o consumo das dietas, comportamentos relacionados à atividade motora e ansiedade, a morfologia (histopatologia e morfometria) de órgãos reprodutivos e entérica e a expressão de genes-chave do eixo hipotálamo-hipófise- gonadal (HHG) e intestinal. Os resultados revelaram que as concentrações superiores a 14% (50, 35 e 25%) de lactose cristalizaram e prejudicaram o consumo. A solução de 14% não apresentou alterações físico-químicas e resultou em boa palatabilidade. Essa solução de lactose e a fórmula comercial prejudicaram a consistência das cíbalas fecais a partir do dia 4. O comportamento foi afetado: efeito ansiogênico. Foi verificada hipertrofia epitelial uterina e aumento na espessura do miométrio. O estudo entérico revelou infiltração linfoplasmocítica, linfangiectasia, fusão de vilosidades, arrasamento criptal, diminuição do número de enterócitos, aumento do número de linfócitos e diminuição da expressão gênica de triptofano hidroxilase (Tph)1. As expressões de GnRh, kisspeptina, receptores de progesterona, LH e FSH e do fator de ligação imunomodulador de progesterona 1 aumentaram. Concluindo, ambas as dietas (lactose 14% e fórmula comercial) revelaram-se eficientes como modelos experimentais de IL. A hipótese que associa a IL com a maior prevalência a distúrbios psiquiátricos foi corroborada pelos achados de ansiedade e explicada pela diminuição da expressão de Tph1 intestinal com consequente prejuízo em vilosidades e criptas. A hipótese que associa a IL a prejuízos reprodutivos foi corroborada por achados morfológicos uterinos. O eixo HHG demonstrou-se chave na interface da IL com a reprodução, com modulação de genes de proteínas, hormônios e de seus receptores. A fórmula comercial induziu efeitos mais marcantes. Este trabalho abre perspectivas no diagnóstico e no tratamento de pacientes com IL, inclusive para comorbidades psiquiátricas e reprodutivas.