Aspectos psicomotores e neurofuncionais após Covid-19

Resumo

A pandemia em decorrência do novo coronavírus (SARS-CoV-2, causador da Coronavirus Disease 2019, ou Covid-19) já infectou mais de 271 milhões de pessoas e causou mais de 5,3 milhões de mortes pelo mundo (dezembro/2021), e os casos continuam em ascensão. Surpreende um vírus que acomete as vias aéreas poder desencadear manifestações neurológicas. O objetivo deste trabalho foi criar e aplicar questionários específicos para pacientes pós-Covid-19 para traçar perfil de eventuais sequelas neurofuncionais. Buscou-se avaliar aspectos epidemiológicos, psicomotores e o grau de comprometimento das habilidades cognitivas, de memória, de atenção e concentração. Foram avaliados 184 indivíduos de 18-64 anos pós-Covid-19 e um grupo controle (30 indivíduos). Os dados epidemiológicos revelaram que os tipos sanguíneos mais prevalentes no grupo pós-Covid-19 foram A+ e O+, assim como o ocorrido para o grupo controle e para a população brasileira. Entre os sintomas mais comuns relatados, destaque para a perda de olfato/paladar e a dor de cabeça. Quanto aos aspectos psicomotores e neurofuncionais, a Covid-19 induziu marcantes prejuízos nos testes: de Praxia Fina (diadococinesia, marionetes, leque e papel), especialmente nas faixas etárias de 31-45 e 46- 64 anos; de Equilibração (imobilidade, equilíbrio estático, pés em linha e persistência), em todas as faixas etárias; de Memória Episódica após distractores, especialmente na faixa etária de 18-30 anos; de Fluência Verbal; e do Relógio, sempre comparado aos dados do grupo controle. Também houve marcante aumento de sincinesia nesses indivíduos. Portanto, a Covid-19 induziu prejuízos nas avaliações psicomotoras e nos diferentes aspectos da Bateria Breve de Memória. Esse resultado é mais surpreendente ao levar em consideração que a maioria dos participantes não relataram doença pré-existente e não necessitaram de internação hospitalar. Concluindo, a Covid-19 induziu prejuízos psicomotores, neurofuncionais e na memória, inclusive em indivíduos jovens, saudáveis e que não foram internados durante o curso da doença. O presente estudo revelou comprometimentos neurológicos ainda inéditos, que devem ser levados em consideração na elaboração de protocolos de reabilitação dos pacientes acometidos pela Covid-19.