Desequilíbrio ecológico das imagens: sonho e resiliência

Resumo

Considerando o cenário atual na relação do ser humano com a imagem, sua natureza simbólica e suas dimensões endógena e exógena (BELTING, 2014), refletimos no presente trabalho sobre novos desdobramentos do fenômeno da iconofagia (BAITELLO JR., 2014) e da utilização ideológica do imaginário (CONTRERA, 2017), através de uma possível substituição das imagens endógenas oníricas por imagens desenvolvidas tecnicamente; pensando o papel da imagem nos processos imaginários, o sonho é espaço de vivência das imagens endógenas. A cultura mediática e o império das imagens exógenas atuam diretamente sobre o modo como o ser humano contemporâneo lida com as imagens endógenas. Sendo o sonho exemplo da última categoria e de importância comprovada na resolução de problemas psicológicos individuais e coletivos, ou seja, valioso para o desenvolvimento de estratégias de resiliência. A partir dessa reflexão perguntamos no presente trabalho: como a relação atual do ser humano com as imagens exógenas influencia a maneira com que tratamos as imagens endógenas oníricas? Para cumprir tal tarefa, escolhemos como metodologia uma criteriosa revisão e comparação bibliográfica de diferentes campos do desenvolvimento científico de estudos da imagem, do imaginário e da imaginação, assim como dos sonhos; com o intuito de estabelecer um diálogo que abarcasse a diversidade com que o fenômeno pode ser observado, trouxemos para o presente trabalho de autores das seguintes áreas: antropologia, teoria da comunicação, biologia, neurociência, psicologia, sociologia, entre outros. Entre os autores consultados estão: Edgar Morin, que oferece noções importantes sobre o conceito de complexidade e da noosfera; Hans Belting, que nos ajuda a delinear a maneira de lidar com as diferentes dimensões da imagem; Malena Contrera, que define o conceito de Mediosfera e fala sobre o uso ideológico do imaginário; Norval Baitello Jr., que com o conceito de iconofagia nos mostra claramente como a invasão das imagens exógenas vem se estabelecendo e crescendo ao longo dos anos. Levamos em conta a importância do trabalho com os sonhos para a saúde geral do indivíduo e da coletividade, como apontado por C. G. Jung e consideramos sua importância para a criação de estratégias de resiliência, a partir dos moldes propostos por Boris Cyrulnik. Adicionamos dados da neurociência que mostram a decodificação de imagens oníricas, o estabelecimento de diálogos com sonhadores durante o sono REM e a identificação de neurônios que respondem de maneira exclusiva a determinadas imagens visuais. O objetivo principal foi o de propor uma reflexão crítica levando em conta o potencial das imagens simbólicas e os riscos da possível intervenção ideológica e econômica dos sonhos.