O consumo de arte e cultura por adolescentes privados de liberdade na Fundação Casa

Resumo

Esta dissertação tem como objetivo investigar o consumo e acesso de bens artísticos e culturais por adolescentes privados de liberdade em cumprimento de medida socioeducativa de internação na Fundação CASA-SP. O trabalho aqui apresentado se debruça a investigar um grupo de adolescentes na faixa etária entre 12 e 18 anos, excepcionalmente até os 21 anos de idade que se apresentam em contexto social com possíveis marcas de estigmatização, rotulados como pobres, periféricos, violentos, “bandidos”, logo, “irrecuperáveis”. A investigação se deu em duas etapas empíricas: avaliação de questionários que formam a base de dados da Fundação CASA (dados secundários) e entrevista em profundidade com 15 adolescentes (dados primários). O referencial teórico da pesquisa perpassa os conceitos de cultura e socialização (GIDDENS, 2010), habitus e gosto como fatores de distinção social (BOURDIEU, 2007), consumo cultural (CANCLINI, 1999), diversidade cultural e políticas públicas (BRANT, 2005), práticas de consumo juvenis (ROCHA, 2007), e cultura pop e midiática (JANOTTI JUNIOR, 2005, PEREIRA DE SÁ, 2019). Os adolescentes sob tutela do Estado apresentam vulnerabilidades diversas, como relações sociais e familiares de vínculos afetivos fragilizados e possível escassez e exclusão de acesso ao capital material, artístico e cultural. Configuram-se, portanto, como parcela da sociedade hipossuficiente nas suas diversas demandas e necessidades de inclusão, alimentando, assim, a base robusta da pirâmide de desigualdade social, com sua precária distribuição de renda. Por outro lado, é possível observar um grupo de jovens em crescimento e desenvolvimento com potencial de consumo e produção de bens artísticos e culturais, tanto dentro da instituição, em que se encontram tutelados, quanto fora dela, nas suas comunidades de habitação.