Mudanças a longo prazo na abundância e distribuição de peixes em um riacho tropical: Respostas às mudanças pós atividades restaurativas e comparação com um riacho referência

Resumo

Riachos possuem uma grande importância para a biodiversidade dos peixes de água doce no mundo, sendo o Brasil, o maior detentor desta diversidade. Esses ecossistemas possuem uma dinâmica complexa em relação ao seu entorno, o que aumenta a taxa de endemismo de peixes de pequeno porte. Por vezes, esses corpos hídricos acabam sendo impactados por barragens e outras intervenções a fim de controlar o fluxo hídrico, o que pode acarretar em dificuldades para a sobrevivência de algumas espécies de peixes. Com o intuito de solucionar esse problema, atividades de restauração podem ser realizadas em áreas perturbadas para proporcionar a recuperação do leito do riacho, da vegetação ripária e consequentemente, gerar um aumento de habitats resultando em condições mais próximas das originais, o que beneficiaria as comunidades de peixes. Com o acompanhamento de observações a longo prazo e coletas sistemáticas é possível avaliar se essas modificações proporcionam uma recolonização por parte da ictiofauna nativa. Para melhor compreensão das dinâmicas dos riachos impactados e restaurados, um ambiente de referência deve ser utilizado. O objetivo deste trabalho é comparar a riqueza, abundância e diversidade de peixes em dois riachos encontrados na bacia do Riacho da Campininha, um afetado por diversas alterações e posteriormente restaurado, e outro menos alterado, de forma a entender as substituições de espécies ao longo dos anos, e encontrar a melhor maneira de conectar as comunidades icticas. Através da comparação do índice de diversidade de Shannon de ambos os riachos, foi constatado que não houve diferença significativa (p = 0,07). Porém, quando comparado a parte acima e abaixo do gabião no Riacho da Campininha, houve diferença significativa, tanto para número de espécies, dominância e índice de diversidade de Shannon (p = <0,001). Isso se dá pelo fato de que o trecho acima do gabião encontra-se isolado, com a dominância de mais de 99% da espécie invasora Poecilia reticulata, sendo que abaixo desse ponto, diversas outras espécies são encontradas. Apesar do riacho referência também apresentar uma barreira (queda d’água), esta não impacta a comunidade de peixes, já que não foi detectada diferença significativa entre a diversidade acima e abaixo da queda d’água (p = 0,667). Por fim, entende-se que, apesar de ambos os riachos apresentarem similaridade quanto aos índices de diversidade, fatores como a dominância de indivíduos invasores e ausência de conectividade longitudinal interferem no Riacho da Campininha, problemas esses que podem ser resolvidos com projetos focados na reconexão dos trechos de montante e jusante.