O teatro como instrumento prático de promoção de saúde: uma proposta de atuação pelo corpo sob a ótica psicanalítica

Resumo

O fenômeno drogadição teve aumento representativo desde 2021 em todo o mundo. Por anos foram aplicados tratamentos conservadores alinhados ao modelo Hospitalocêntrico e o modelo Moral-Religioso. Entretanto, ressalta-se a defesa do Ministério da Saúde do Brasil sobre a oferta aos usuários de álcool e outras drogas e seus familiares, de serviços como acolhimento, atenção integral e estímulo à sua integração social e familiar. Nesse sentido, a resolução nº 101 lei 6.368/76 (ANVISA) veio contribuir com a implementação de modelos de trabalhos eficientes aos problemas psicossociais, destacando o uso da arte. Desse modo, o presente estudo teve como objetivo investigar o uso de dinâmicas teatrais como técnicas de grupo para promoção de saúde mental, visando observar possíveis expressões emocionais e fenômenos psicológicos emergentes durante as práticas com os pacientes em tratamento de reabilitação química. Trata-se de um estudo de caráter qualitativo, que utilizou entrevistas semiestruturadas aplicadas individualmente, as quais foram gravadas e transcritas na íntegra. Também foram realizados 06 encontros grupais, nos quais houve aplicação de técnicas teatrais não-verbal, seguidas por um debate. Os encontros foram filmados e posteriormente transcritos integralmente. Os encontros grupais foram denominados como: 1. O despertar para o nascimento, 2. No descobrir pelo caminhar, 3. No encontro por seu andar, 4. Do anda à improvisação, 5. Na relação e 6. Ping-pong sem raquete. Os resultados das entrevistas foram analisados pelo modelo de análise temática, e, dos grupos sob à luz da Psicanálise. Sobre os resultados das entrevistas, destaca-se a identificação de 6 categorias temáticas: 1. Infância; 2. Adolescência; 3. Pensamentos e sentimentos; 4. História da drogadição; 5. Tratamentos e 6. Mente, corpo e autoimagem. Em suma, as entrevistadas relataram vivências traumáticas na infância, marcadas por perdas, violência doméstica e/ou negligência dos pais quanto aos cuidados básicos. Além disso, a maioria também relatou lembranças e convivência com o álcool e drogas desde o início da vida. Durante os grupos foi possível observar entre as participantes dificuldades de concentração, ficar em silêncio, constrangimento, tensão e ansiedade junto à realização das dinâmicas. Notou-se baixa capacidade criativa, rigidez e dificuldade de simbolização e improvisação. Durante os debates, as participantes ressaltaram que algumas sensações corporais/físicas proporcionadas pela dinâmica, despertaram incômodo e angústia. Relataram também, medo de errar e a emergência de fantasias infantis, cuja temática envolvia culpa e/ou perseguição. O surgimento de tais sentimentos e fantasias durante a dinâmica teatral, com a possibilidade de identificá-los e compartilhá-los verbalmente durante o debate, constituiu-se como um processo de possíveis ganhos terapêuticos. Enfim, o presente trabalho atendeu ao seu objetivo geral de investigar o uso de dinâmicas teatrais, focadas na expressão pelo corpo/movimento, como técnica de grupo para promoção de saúde mental.