Resumo (PT)
O rádio no Brasil, ao longo da sua história, construiu uma relação arraigada com a cultura e tornou-se um importante instrumento de valorização das representações regionais. Atualmente, este meio passa por uma série de mudanças, entre elas, a migração da frequência AM para FM, processo que tende a alterar o modo como as emissoras estabelecem vínculos com a audiência. O objetivo desta pesquisa é analisar como os conteúdos dos programas de rádios regionais que passaram pelo processo de migração se relacionam com a realidade cultural do local onde a emissora está inserida, verificando como esta relação se efetiva, considerando que rádios tiveram um papel importante na representação cultural de seus territórios, sendo verdadeiros patrimônios culturais imateriais. Duas emissoras de regiões diferentes do país constituem o objeto desta dissertação: uma delas é a Rádio Mantiqueira de Cruzeiro (SP), a mais antiga do Vale do Paraíba. Inaugurada em 1934, operou na frequência AM 550 kHz até 2016, quando foi desligada, restando apenas a Mantiqueira FM 100,7, fundada em 1980. A outra é a Rádio Clube FM de Santo Antônio de Jesus (BA), inaugurada em 1978. Permaneceu na frequência AM 680 kHz até 2017, quando migrou para a FM 92,7. O percurso metodológico deste estudo foi realizado a partir de pesquisa qualitativa de caráter exploratório, cuja estratégia foi a análise de conteúdo baseada no esquema categorial de Flores (1994). O resultado mostra que, apesar das mudanças, emissoras regionais migradas podem continuar exercendo seu papel sociocultural, quando adentram na cultura local, principalmente através de conteúdos que preservem a proximidade e valorizem os símbolos culturais, mantendo-se desta forma como patrimônio cultural imaterial. Já as rádios que trabalham mais com temas abrangentes, ou que não focam tanto em manifestações simbólicas locais, ainda que tentem algum tipo de proximidade, exercem uma representatividade parcial, enfraquecendo seu potencial de patrimônio imaterial. Além disso, o desligamento de emissoras AMs, representativas em suas regiões, deixa lacunas em seus territórios.